Antes de existir o Espaço Zero, houve a Zero Design.
O Espaço Zero foi um sonho; a Zero design, um acaso. Mas sonhos e acasos (... ou epifanias?) se misturam em 30 anos de história.
Era meados de 1989. O país beirava o caos, a inflação mensal beirava os 3 dígitos e o mundo temia a moratória brasileira. Neste cenário, um jovem e arrojado candidato com “uma única bala na agulha” prometia resolver todos os problemas - Fernando Collor de Melo. Uns acreditavam, outros receavam. Assustados e receosos de novos planos mirabolantes, o brasileiro punha o pé no freio. E foi neste freio que minha prancheta de decoração (aquela laminada verde-claro com régua T...) ficou vazia. Nenhum projeto no segundo semestre de 1989.
Tão vazia que pude tranquilamente restaurar uma lamparina que eu havia comprado. Faltava um pequeno cilindro. Com a ajuda das Páginas Amarelas, encontrei um distribuidor de produtos de laboratório. Fui retirar no dia seguinte. Ao me entregar a peça, além do pedaço de 6 cm que eu precisava, havia outra barra grande. “Você comprou uma barra de 1,50 m, cortei os 6 cm mas o resto é seu”.
Achei graça e pedi que ele cortasse todo o resto em outros pedaços de 6 cm. No trânsito de volta pra casa, tirei os 25 bastões do saco transparente. Molhados, grudavam-se uns nos outros e formavam desenho incríveis. Era um dia claro e o sol na Radial Leste atravessava o vidro do carro e dos bastões. Formavam-se pequenos arco íris ali...
Foi amor à primeira vista. Por algumas semanas mexi naqueles bastões, voltei na loja de materiais de laboratório, comprei tubos de ensaio, placas de petri, vidros de relógio, balões volumétricos e enchi a prancheta. Um cinzeiro foi minha primeira peça. Depois vieram porta-retratos, vasos, porta-lápis... a maior loja de design de São Paulo na época comprou toda minha produção e fez uma vitrine para o Dia das Mães. E foi assim que as primeiras nuvens entraram dentro de caixas.
Meu primeiro atelier foi na área de serviço do meu apartamento; o segundo, na edícula de um escritório; o terceiro, uma casa na Barra Funda. Aí começou o sonho. Fui pra Murano aprender a soprar vidro.
Cada vez mais apaixonada pelo vidro, na volta de Murano eu queria mais. Fazer mais (e maiores) peças, me comunicar com museus, mostrar o trabalho de outros artistas que havia conhecido e pelos quais havia me apaixonado também, queria ensinar tudo que havia aprendido. Assim nasceu o Espaço Zero: um espaço para o vidro, formado por galeria de arte, escola, centro de informações, biblioteca e restauração.
De 1994 a 2013, o Espaço Zero se tornou uma referência do vidro no Brasil e no mundo. Realizamos exposições internacionais, intercambiando alunos, disponibilizando algumas centenas de títulos para interessados e, principalmente, ensinando vidro para mais de 2.000 adultos e 3.000 crianças.
Em 2012, por ocasião de uma viagem a Chicago, resolvi visitar o Corning Museum of Glass de Nova York. Ali, bêbada de arte e ciência do vidro, vislumbrei o IVI – Instituto do Vidro. Para ser feito no Brasil, um país extremamente jovem na arte do vidro, onde não haveria arte significativa para preservar, mas muito a se ensinar.
Uma semana depois viria o reconhecimento e a confirmação de que a hora era aquela e que o Espaço Zero tinha legitimidade perante a comunidade Internacional para acolher o sonho do IVI: a presidente do ICOM-GLASS (International Council of Museum of Glass) me enviava um e-mail pedindo a colaboração do Espaço Zero na realização do ICOM-RIO, que aconteceria no ano seguinte.
Em fevereiro de 2013, o IVI foi legalmente instalado como Instituição Social de Interesse Público. Em agosto, já teve uma relevante participação durante a conferência da ICOM-RIO. Com o apoio do Espaço Zero, foram realizadas diversas ações no Rio: “Um Olhar através do vidro” (uma cartografia do vidro no Rio de Janeiro), duas exposições e oficinas no Museu da Maré, entre outras. Mais uma vez, as nuvens entraram dentro de caixas.
Em outubro de 2013, na reunião anual do ICOM-GLASS, meu nome foi indicado para o Board deste importante conselho.
O Espaço Zero hoje, além de comercializar meu trabalho pessoal, é o berço do IVI.
Com muito orgulho,
Elvira Manoukian Schuartz

Descobri seu site por acaso, passeando pela internet enquanto o sol nascia, aqui nas montanhas de Minas Gerais. Olha! que presente. O belo sempre encanta mas no vidro ele é transparente. Vou passear por aqui como se passeia em um jardim. Um deleite em meio a criatividade e bom gosto. Parabéns.