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Vidro - uma história de 5 mil anos

Atualizado: 15 de jan. de 2019


Taça de vidro feita durante o reinado do faraó Thutmose III (1479-1425 a.C.) - foto Einsamer Schütze/Wikipedia

A origem do vidro não tem data certa. Os primeiros vidros de que temos conhecimento hoje são de 2.500 a.C, foram encontrados na Mesopotâmia e são de cor azul. A partir daí, o vidro começa sua epopeia pelo mundo.


De lá para cá no mediterrâneo

Primeiro foram os mesopotâmios, depois os egípcios, os fenícios, os etruscos e os gregos também. Ou seja, o lado de lá do mediterrâneo teve o vidro como seu segredo mais precioso e sua joia mais rara. Faziam joias, mesmo, e raríssimas. Era muito mais difícil fazer uma conta de vidro do que garimpar metais preciosos. Das joias, passaram a pequenos frascos. Só depois do século I a.C. é que começaram a soprar literalmente o vidro. No lugar das minúsculas esculturas em patê de verre ou core formed, trabalhosos e requintados, o vidro soprado, simples e produtivo, caiu no gosto dos mercados populares.


O vidro dos Césares

Não foi só Cleópatra que veio de lá para cá do Mediterrâneo. Da Síria, onde a técnica foi inventada, o sopro logo foi parar em Roma. Os romanos aprimoraram e sofisticaram vasos e jarras para a nobreza e o povo aplaudiu os novos recipientes para azeitonas, conservas e bebidas, que não impregnavam com o cheiro nem pegavam azinhavre: quase banais, mas muito úteis e bonitos.

O mundo moderno agradece até hoje às invenções e sofisticações dos romanos. Muito pouco mudou ou se acrescentou de lá para cá. Junto do poder que circulava pelo Mediterrâneo, o vidro foi de de Roma até Constantinopla e para o Império Bizantino, onde os islâmicos assumiram a cria – e, assim, o vidro voltou para o lado de lá. De lá herdamos os mosaicos e os vitrais, enquanto a Europa dizimava florestas para fabricar recipientes para bebidas e conservas – os verre de fugére.


Toda poderosa Veneza

Mas o Ocidente acordou do repouso do guerreiro e resolveu esticar suas garras para o lado de lá. De Veneza saíam as cruzadas que levavam a fé e traziam coisas dos fiéis. No meio destas "coisas" veio o vidro, com técnicas e tudo. Do lado de cá, Veneza fez a festa na Renascença. Com os vidreiros confinados na ilha de Murano, não foi difícil manter a hegemonia do vidro durante quatro séculos; mas da mesma forma que os segredos vieram, eles se foram – ninguém sabe como. O segredo mais doce que Veneza perdeu foi o do "Cristallo"– aliás, cria da casa. Por fim, os maus ventos espalharam as sementes do vidro por toda a Europa. Por mais sublime a artística que possa parecer a invenção do cristal, a grande vedete da época eram os vidros de janela e os espelhos. As jovens donzelas da época, até então, utilizavam apenas espelhos de prata polida.


O cristal de chumbo

A escassez de madeira fez com que os ingleses substituíssem a lenha por carvão, o qual não atingia a temperatura suficiente para fundir vidro. Por quase um século pesquisaram até descobrir que adicionando uma quantidade significativa de óxido de chumbo à mesa de vidro, ele fundiria a uma temperatura mais baixa e ganhava um brilho e transparência jamais antes alcançado. Copos, taças, cálices… as mesas reais se encheram de copos de cristal – lapidados, gravados, com brasões, escudos; pretos, dourados, coloridos… copos, copos e mais copos. Super atuais os copos de cristal!


A festa do vidro no Art Nouveau

Então entraram as máquinas e o vidro se tornou indústria. Abençoada seja aquela que nos fornece até hoje um conforto impagável – lâmpadas, garrafas, frascos de perfume, arsenal de laboratório e farmácia, óculos, lentes, tela de TV, fibra ótica etc... que nossa era desenvolveu e aprimorou. Mas que horror estas máquinas!

Revoltados contra a mania do tudo igual, um grupo de artistas, com o apoio de poetas e filósofos, fechou o século XIX fazendo o que nenhuma máquina poderia fazer: Arts & Crafts – era o grito da moda na Inglaterra. Art Nouveu – chamava-se o movimento que fez o vidro fervilhar na França. As peças eram assinadas e o vidreiro não era mais um servo, escravo ou trabalhador braçal, mas um artista! Gallé, Daum, Tiffany, Lalique esmeraram-se em técnicas complicadas, esculpiram flores e temas da natureza em vasos e luminárias tão delicadas quanto intrincadas. O vidro "decô" era um pouco menos rebuscado do que o "nouveau", embora também não coubesse dentro de máquinas. Mas não demorou muito para chegar lá: o "moderno" dos tempos modernos era aliado da máquina, se orgulhava dela; convivia tão bem que criava para ela.


O design no século XX

Na década de 1960 surge o grande inimigo do vidro. Chama-se poli-isso, poli-aquilo, acrílico, resina… no fundo, é tudo plástico. Entrosadíssimo com a tal máquina, ele vem disposto a mostrar que o vidro é ultrapassado. Em vão!… como marido apaixonado que assiste às andanças aventureiras da mulher amada, o vidro assiste o mundo se assanhar com as façanhas do plástico, aguardando que ele se acabe mesmo sem se quebrar.


Se no final do século XIX procurou-se juntar o artista e o artesão em um ser só, na segunda metade do século XX eles ficaram mais separados do que nunca. O artesão continuou artesão e o artista virou "designer". Um pensa e o outro executa, como cabeça e braço separados. Abaixo as cores! Fora os detalhes! "Clean"é a palavra símbolo da nudez do estilo dos anos 1980. Pode ser mais "clean" do que o vidro? Tira detalhe, põe detalhe. Tira cor, põe cor. Tira textura, põe textura. Assim vai… hoje chama-se pós-moderno e tem tudo que tem agora mais o que tinha antes, isto é só "revival" (os designers preferem "releitura"). E não é só revival dos anos 50 ou 60, é revival dos anos 1800, dos 300, até dos a.C.! É bom conhecer alguns Muranos que andam vendendo Fenícios, Etruscos e Romanos por aí a três por quatro, ainda que "made in China".


E no Brasil…

O Brasil consumiu amplamente os Baccarat, Daum, Gallé e Lalique que os importadores traziam. Embora o país já fabricasse vidro desde o final do século XIX, nada se fazia além de garrafas e frascos. Foi na década de 1950 que as dezenas de novas vidrarias (abertas durante a guerra devido à proibição das importações) começaram a procurar inspiração na Europa. Foram todos a Murano e trouxeram todos os mesmos modelitos: vidro grosso, cores vivas e mescladas, que passaram a ser chamados simplesmente de "Muranos". Se no final do século XIX a Europa criou o Arts & Crafts, o Brasil criou na metade do século XX o Copy & Crafts. Tudo tinha cara de Murano: quanto mais Murano, melhor. No século XXI, o brasileiro faz o que todo o mundo faz. Cores vibrantes, revival de formas clássicas, arrojados, debochados. Não é fácil recuperar o tempo perdido, mas a criatividade nacional supera a “juventude” e o país se coloca sob os holofotes da critica internacional.


Afinal, o que é o vidro?

A forma mais simples que temos de entender a composição do vidro é que ele nada mais é do que uma areia derretida a cerca de 1.500°C. A areia de mar contem todos os ingredientes necessários para a fabricação do vidro – sílica, carbonato de cálcio e sódio/potássio. As cores são obtidas através de óxidos de metais que se misturam à composição, por exemplo: óxido de ferro faz o vidro verde, de ouro faz o vermelho, de titânio faz o branco, etc.




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